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MediaTrust.Lab participa de encontro ibérico de projetos sobre desinformação

Os investigadores do MediaTrust.Lab, Pedro Jerónimo e Luísa Torre, estiveram presentes no I International Workshop Disinformation Research, que reuniu em Málaga, Espanha, nos dias 4 e 5 de julho, os responsáveis dos 22 projetos de investigação de Espanha e Portugal que se debruçam sobre a desinformação.

O MediaTrust.Lab suscitou particular interesse, não só por se debruçar sobre esta problemática a partir do âmbito mais local, mas também por ser o único sediado em Portugal.

Pedro Jerónimo abriu a sessão dos projetos internacionais, apresentando o trabalho já desenvolvido pelo MediaTrust.Lab e seus objetivos, enquanto Luísa Torre fechou a sessão dedicada a alunos de doutoramento, cujas teses se debruçam sobre desinformação.

Este encontro contou ainda com Vania Baldi (ISCTE), em representação da equipa portuguesa do IBERIFIER, projeto que estuda a problemática na Península Ibérica e que é liderado por Ramón Salaverría (Univ. Navarra).

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MediaTrust.Lab em ação de cooperação internacional

O investigador responsável do projeto, Pedro Jerónimo, foi convidado para um evento que reuniu em Portorož, Eslovénia, de 6 a 8 de junho, responsáveis de media, governos e organizações não-governamentais (ONG’s).

O projeto “Strengthening Societal Resilience and Countering Foreign Perpetrated Disinformation in Six Western Balkan Countries”, coordenado pela organização governamental eslovena Centre for European Perspective – CEP, foi o promotor de uma ação de capacitação, que envolveu cerca de 40 representantes dos governos, media e ONG’s da Albânia, Bósnia e Herzegovina, Macedónia do Norte, Montenegro, Kosovo e Sérvia.

A presença Pedro Jerónimo visou uma abordagem multinível à problemática da desinformação, considerando as dimensões locais, nacionais e internacionais. “O convite surgiu porque a responsável pelo projeto da CEP leu um artigo que publiquei o ano passado, juntamente com uma colega espanhola, e cujo teor considerou muito pertinente. Tratava-se de colocar em discussão o tema da desinformação a partir do âmbito mais local, algo que aquela responsável também considerou que tem estado ausente”, começou por referir.

Quanto ao balanço, considera-o muito positivo. “Estamos a falar de uma região da Europa não só onde há menos confiança nos media, como também onde se estão a dar os primeiros passos no combate à desinformação. Isso foi notório e por isso tenho a sublinhar o extraordinário esforço do CEP, designadamente ao conseguir reunir responsáveis destes países e colocá-los frente-e-frente, a identificarem problemas e a proporem soluções”, concluiu.

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MediaTrust realiza o seminário “Jornalismo de Proximidade e Audiências”

Será realizado no dia 14 de junho o Seminário MediaTrust.Lab com tema “Jornalismo de Proximidade e Audiências”, . O seminário terá três sessões, que versam sobre desinformação e fact-checking, plataformização e audiências e literacia mediática.

O Seminário MediaTrust.Lab: “Jornalismo de Proximidade e Audiências” pretende ser um espaço que privilegia o debate interdisciplinar, reunindo pessoas unidas por interesses de investigação e/ou trabalho comuns.

Joelle SwartJoëlle Swart, professora do Centro de Estudos dos Media e Jornalismo da Universidade de Groningen, Países Baixos, fará a conferência de abertura do evento, com título “What trusting the news means: news fluency in the age of disinformation”.

Joëlle tem como interesses de investigação o cruzamento entre media digitais, jornalismo e cidadania. Tem-se destacado com trabalhos sobre audiências de notícias, publicados em várias revistas científicas de relevo, como Journalism Studies, Media, Culture & Society, Digital Journalism e New Media & Society.

Marisa Torres da SilvaA conferência de encerramento fica a cargo da professora auxiliar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Portugal, Marisa Torres da Silva, e terá como tema: “Tão perto e tão longe: jornalistas e públicos”.

Marisa tem como interesses de investigação jornalismo e estudos dos media, esfera pública, democracia deliberativa, media digitais, deliberação online, jornalismo cultural, género e comunicação, audiências e estudos de receção, discurso de ódio online. Coordenadora adjunta do GT de Públicos e Audiências da SOPCOM e diretora da revista científica Media & Jornalismo, tem publicado em várias revistas de relevo, como Journalism Studies e Journalism Pratice.

O Seminário MediaTrust.Lab é de participação gratuita, porém, carece de inscrição prévia. Pode fazê-lo em https://mediatrust.ubi.pt/events/semuc2023/

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MediaTrust.Lab promove “Fact-checking Spring School” em Coimbra

Debater e aprimorar o(s) processo(s) de verificação de factos (fact-checking) é o mote para a Fact-checking Spring School, um treinamento destinado aos/às jornalistas que trabalham nos media regionais e locais e aos/às estudantes de jornalismo. A escola de primavera irá ser realizada no dia 19 de abril, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

A iniciativa contará com profissionais de projectos de fact-checking da Agência Lupa (Brasil), da Maldita.es (Espanha) e do Polígrafo (Portugal). Participam da iniciativa Raphael Kapa (Lupa), Vivian Rangel (Maldita.es) e Gustavo Sampaio (Polígrafo), em debate sobre desinformação, verificação de factos e o papel das agências de fact-checking nas sociedades.

O evento, que será gratuito, terá um debate e duas oficinas para treinar jornalistas e estudantes no uso de ferramentas de fact-checking e para dar a conhecer habilidades utilizadas na investigação de desinformação online.

Mais informações: https://mediatrust.ubi.pt/events/factcheck2023/

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𝐌𝐞𝐝𝐢𝐚𝐓𝐫𝐮𝐬𝐭.𝐋𝐚𝐛 𝐜𝐨𝐨𝐫𝐠𝐚𝐧𝐢𝐳𝐚 𝐝𝐞𝐛𝐚𝐭𝐞𝐬 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐈𝐀, 𝐚𝐥𝐠𝐨𝐫𝐢𝐭𝐦𝐨𝐬, 𝐦𝐞𝐝𝐢𝐚 𝐞 𝐝𝐞𝐬𝐢𝐧𝐟𝐨𝐫𝐦𝐚çã𝐨

Num contexto de cada vez maior relevância das tecnologias digitais, dos algoritmos e da inteligência artificial nas nossas vidas individuais e coletivas, revelam-se fundamentais as iniciativas de debate público sobre essas questões. Para contribuir com esta necessidade democrática, a Universidade da Beira Interior – por meio da Unidade de Investigação Labcom – Comunicação e Artes e do projeto MediaTrust.Lab – realiza o Ciclo de Conversas “Inteligência Artificial, Algoritmos e Media”.

Reunindo investigadores e especialistas sobre os temas propostos, o Ciclo de Conversas acontecerá durante o mês de janeiro de 2023, com uma conversa semanal, às terças-feiras, das 18h às 19h30. O MediaTrust.Lab associa-se à organização e conta com a participação de duas investigadoras: Luísa Torre, da equipa organizadora, e Inês Amaral, que irá debater “Algoritmos e Desinformação” (31 janeiro).

A primeira conversa, no dia 10 de janeiro, será “Tecnologia, Sociedade e Democracia”, com a participação de Joaquim Paulo Serra (Universidade da Beira Interior, Portugal), Johanna Monagreda (Data Privacy Brasil Research, Venezuela/Brasil) e Rosa Franquet (Universitat Autònoma de Barcelona, Espanha) e moderação de Anabela Gradim (Labcom/UBI).

Na semana seguinte, no dia 17 de janeiro, é a vez do debate “Jornalismo, algoritmos e produção automatizada de notícias”, com Dora Santos Silva (Universidade Nova de Lisboa, Portugal), João Canavilhas (Universidade da Beira Interior, Portugal) e Krishma Anaísa Coura Carreira (Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, Brasil) e moderação de Adriana Gonçalves (Labcom/UBI).

Em 24 de janeiro, a mesa “Tecnologias digitais, ética e vieses discriminatórios” reúne Marisa Torres da Silva (Universidade Nova de Lisboa, Portugal), Patrícia Ventura (Universitat Autònoma de Barcelona, Espanha) e Tarcízio Silva (Mozilla Foundation, Brasil), com moderação de Paulo Victor Melo (ICNOVA FCSH e Labcom/UBI).

A última mesa, no dia 31 de janeiro, fala sobre “Algoritmos e Desinformação” com André Lemos (Universidade Federal da Bahia, Brasil), Inês Amaral (Universidade de Coimbra, Portugal) e Ramón Salaverría (Universidad de Navarra, Espanha) e moderação de Luísa Torre (Labcom/UBI).

A inscrição é grátis no link: https://forms.gle/z9wimisSNQCLVyZ36

Todas as conversas são transmitidas no canal do LabCom no Youtube: https://www.youtube.com/@labcom-comunicacaoeartes6840/

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Inovar nos media regionais é “crítico e sensível” para o desenvolvimento local

A falta de meios de comunicação social nos territórios mais pequenos e a pouca visibilidade que estes têm nos meios de âmbito nacional, exceto quando há tragédias, traz desafios para o desenvolvimento regional e para a qualidade da democracia ao nível mais local. É a partir da visibilidade destes territórios nos media, que as populações e as economias podem ter melhores oportunidades de se desenvolver.

Estas foram algumas das ideias debatidas no Fórum “O papel dos media no desenvolvimento do(s) território(s)”, realizado dia 5 de dezembro, no Auditório da Biblioteca Central da Universidade da Beira Interior (UBI), numa iniciativa do MediaTrust.Lab. O debate teve a presença de Flávio Massano, presidente da Câmara Municipal de Manteigas, João Leitão, professor do Departamento de Gestão e Economia da UBI, e de João Moraes Palmeiro, diretor executivo do Aveiro Media Competence Center.

Os participantes no debate falaram sobre o papel da comunicação social na coesão dos territórios, a importância dos órgãos públicos na regulação, o apoio ao desenvolvimento dos media regionais, os modelos de negócios e a dificuldade de inovar, nomeadamente em territórios com baixa população e atividade económica.

“Atualmente o nosso município é um território sem qualquer meio de comunicação social. Manteigas teve, até há pouco tempo, e isso faz toda a diferença. A comunicação social é fundamental para ligar as pessoas, as culturas, os povos, e é a ligação da diáspora com o nosso território”, afirmou Flávio Massano. O referido concelho está, atualmente, naquilo que o estudo apresentado pelo MediaTrust.Lab na mesma ocasião designa com “deserto(s) de notícias”. Tratam-se de territórios onde não há meios de comunicação social que, com sede nos mesmos, realizem a cobertura jornalística dos assuntos locais. “Faz falta um semanário, mensário. Isso é importante também para o equilíbrio de poder”, sublinhou o autarca.

Flávio Massano questionou quando ainda sobre quando é que o interior é lembrado pelos meios de comunicação de referência em Portugal. “Quando há tragédias, que foi quando eu apareci na comunicação social [no incêndio da Serra da Estrela]. Naqueles dias, era a toda a hora, todo instante, os media queriam saber o que se estava a passar. E o segundo motivo principal, pegando nos noticiários de televisão, é quando temos o maior bolo-rei, o maior doce… que é informar banaldiades. Do interior, só interessam tragédia e banalidades”, apontou.

Mas o que está a acontecer com a informação noticiosa em Portugal? Para João Leitão, há um problema de qualidade de democracia. “Quando falo de captura das agências reguladoras, são questões que esbarram na qualidade da democracia e no papel do Estado. Não precisamos de mais Estado, mas de um Estado com outro nível de qualidade e sobretudo regulador. Que seja capaz de pensar uma visão digital, moderna, que antecipe a mudança que está em curso e que seja capaz de evitar a captura das agências reguladoras e dos agentes que estão no terreno, para que os media possam assumir sua função de literacia e capacitação”, referiu o professor da UBI.

Tudo que se puder fazer em particular com os media como motor do desenvolvimento regional, temos que fazer, defende o professor. “Não seria desejável ter, por exemplo, uma agência de notícias regional do centro e isto estar articulado com os princípios europeus de capilaridade?”, questionou.

Percebe-se, cada vez mais, a importância do apoio dos órgãos públicos como via de solução para a(s) crise(s) dos meios regionais, em especial para os desertos de notícias, afirma João Moraes Palmeiro.

“Percebemos a importância da problemática na Europa e elevou-se o tema à mesma importância que a discussão da desinformação e das literacias. Na passada semana, apresentamos em Bruxelas este novo estudo sobre ‘news deserts’ e há muito interesse em debater isto. Esta é a nossa missão, que estes temas não fiquem fechados entre nós, que sejam disseminados pelo máximo de pessoas”, adiantou.

Há lacunas em que o Estado tem que intervir, diz Flávio Massano. E o Estado tem que perceber que não intervindo vai contribuir para a desertificação, para este território não ser atrativo a visitantes, observadores, e também aos media.

“Em alguns territórios, como em Manteigas, se não houvesse redes sociais, poderíamos estar num período comparado à ditadura, pois não há informação. Já há desinformação, já há discurso extremista, ‘fake news’, discurso de ódio. Mas não há uma fonte fidedigna que transmita os fatos”, destacou.

Desafios para modernizar a gestão e inovar em modelos de negócio

Há um problema já mapeado que é o problema da qualidade de gestão dos media, uma questão que “dialoga” com a problemática dos desertos de notícia. Para isso, diz João Leitão, os centros de competência tem que ser financiados e nomeados para juntar as competências técnicas das universidades, politécnicos e laboratórios, e aproximá-los do mercado.

“O empreendedorismo no jornalismo ou nos media regionais não gera empregos, não gera desenvolvimento? Assim estamos sempre a bater na mesma tecla. A academia não se relaciona ao mundo empresarial. É preciso gerar integração, mas é preciso ter uma visão. Não pode ser uma lógica neoliberal, de deixar funcionar e o mercado vai decidir. Neste campo em particular, tão crítico e sensível ao nosso desenvolvimento, é preciso ter visão, política de regulação e filtros de qualidade com monitoramento e correção”, explica o professor.

Para João Moraes Palmeiro, falta cultura de inovação e organização para que os media regionais consigam alcançar modelos de negócio mais sustentáveis.

“Chegamos aqui porque há uma mudança dos hábitos de consumo e a indústria não soube acompanhar essa transição no mundo inteiro. As redes sociais levam 95% do investimento em publicidade global e só 5% são canalizados para os media. Porque o modelo de negócio deles [grandes plataformas e redes sociais] é altamente baseado em dados e a campanha tem eficácia. Há um problema grave de modelo de negócio e posso dizer que, em várias conversas com conselhos de redação, que eles preferem ter uma notícia lida 1000 vezes gratuitamente do que ter 100 pessoas a pagar para ler. Mas não é esse modelo de negócio permite que os media existam”, explica.

Mesmo quando há inovação, novos formatos ou infraestruturas, muitos media não conseguem dar continuidade a estes projetos, salientou Palmeiro. “Fica tudo parado. Não usam porque não sabem, não conseguem, estão preocupados em sobreviver todos os dias”, concluiu.

Por Luísa Torre

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Melhorar o jornalismo para combater a desinformação

Os jornalistas e docentes universitários António Granado e Miguel Crespo debateram as práticas jornalísticas em meio ao desafio da desinformação em Portugal, na mesa redonda “Boas Práticas no Jornalismo e Promoção da Confiança”, no âmbito do Seminário MediaTrust.Lab, que decorreu na tarde de 18 de julho.

“Eu sinto-me mais preocupado com a contribuição que os jornalistas podem fazer para a desinformação, que a desinformação de forma geral. Do ponto de vista do jornalismo, esta é a que me preocupa mais”, disse António Granado, co-coordenador do mestrado em Comunicação de Ciência na NOVA FCSH.

O também jornalista explicou que a primeira obrigação do jornalismo é com a verdade, “então se não temos certeza não publicamos. Se outros vão publicar primeiro, azar, só podemos publicar quando tivermos certeza de uma informação. Não se conseguiu confirmar, não se conseguiu ter a certeza do que se passou ali, então não se publica”.

Granado acredita que a contribuição para desinformação pode vir às vezes também de uma obrigação que os jornalistas sentem de que é preciso ouvir o outro lado da história. “A questão de balancear as histórias, esse balanço às vezes contribui para algo negativo que é ouvir pessoas que não tem conhecimento sobre o tema. Os jornalistas ouvem, as fontes não têm conhecimento sobre o tema em que estão a opinar e isso confunde os espectadores”, explicou.

Miguel Crespo, investigador assistente no CIES-IUL e no OberCom, subscreve. “Durante a pandemia, tivemos todas as questões da pseudociência. Não há outro lado a ouvir, só há o lado da ciência. O jornalismo não pode dar espaço a qualquer louco com uma teoria.” Crespo também acredita que alguns processos no jornalismo português precisam ser melhorados para que a confiança nos media possa aumentar.

“Há algumas semanas vimos a notícia sobre [se o ministro] Pedro Nuno Santos ia renunciar ou não renunciar. Por volta das 14h30, quando Pedro Nuno Santos ia entrar para a reunião com António Costa, um dos nossos jornais diários publicou no seu site que ele se demitia ou o António Costa o demitiria. Três minutos depois, as rádios já diziam que ele se demitia. Como sabemos, nenhuma das coisas se verificou, e são os jornais a brincar de redes sociais. Não era uma notícia, só uma especulação, não há fontes. Um cidadão comum vê isto, o que está errado é o jornalismo. Isso é gravíssimo pois são muitos portugueses que deixam de confiar no jornalismo”, lamenta.

O também jornalista pontua que essas dinâmicas têm a ver com a tal aceleração e a velocidade que se impõe sobre a rotina jornalística. “Se calhar é uma visão pessoal, mas o caminho do jornalismo não é ir atrás da rapidez, porque a rapidez não traz nada de bom ao jornalismo. É preciso dar notícias quando são relevantes. É preciso dar 100 notícias por hora? Não. Se calhar é mais interessante dar cinco notícias por hora”, afirma.

Os dois profissionais também refletiram sobre o fact-checking e seu estatuto enquanto jornalismo. “O problema é que, quando o jornalista falha, abre-se espaço para outras coisas. Digamos que se não tivesse havido no passado recente falhas no jornalismo, não teria o que conhecemos como fact-checking. Abriu-se um nicho de mercado que foi ocupado com suas virtudes e defeitos. Se estamos a falar de um novo género jornalístico ou não, vamos deixar que o tempo passe e logo veremos. É uma questão muito discutida se fact-checking é ou não jornalismo, até porque o produto final não se enquadra diretamente nos critérios do que é jornalismo”, observa Crespo.

Granado, por sua vez, lembra que o fact-checking é algo obrigatório devido a quantidade de informação que as pessoas trocam nas redes sociais, mas tem dúvidas se o jornalismo ganha ou perde mais com o fact-checking. “Em relação ao Polígrafo, por exemplo, 90% do dinheiro que o sustenta vem do Facebook. É interessante haver a parceria da SIC, mas 96% do dinheiro provém de um único financiador”, afirma.

Um problema, antigo na visão de Crespo, e que impacta fundamentalmente o jornalismo, é que as pessoas não querem pagar por notícias. “Não mudou assim tanto. A generalidade das pessoas não quer pagar por notícias. Não se pagava pela rádio e pela televisão pagava-se uma taxa obrigatória. Mas havia muita publicidade. Hoje, o mercado português investe metade dos recursos em plataformas internacionais e o dinheiro vai para fora do país. Jornalismo é das profissões que existem que mais dependem da mão de obra. Exige mais pessoas para produzir qualquer coisa, se calhar mais que uma manufatura que pode ser robotizada. Vejo a participação das audiências como algo muito difícil em regiões onde há muitíssimas outras questões para resolver, então vejo como algo muito difícil. As audiências acabam por se conformar com o fato que as notícias de sua região são quase zero”, refere.

A falta de meios em diversos concelhos – fenómeno conhecido como “deserto de notícias” – é, certamente, um problema não só ao jornalismo como também para a democracia, diz Granado. “Para mim democracia sem jornalismo não faz sentido. Além disso, na generalidade dos concelhos do país, há um déficit gritante de jornalismo local, mesmo quando há jornalismo local. A maioria dos meios que existem são muito pobres tanto em termos financeiros quanto em termos editoriais. Aquilo que é publicado quando há jornalistas com carteira e está registado na ERC são publicações da Câmara Municipal, notícias sobre o restaurante da cidade e a loja local, não é jornalismo propriamente dito”, afirma.

Para ele, fortalecer o jornalismo de proximidade passa também por novos modelos, como por exemplo o funcionamento a partir de um trabalho em rede. “Uma lógica em que produzem todos por todos, é uma lógica funcional que poderia estar espalhado pelos concelhos. Se houvesse algo nesse sentido, poderia haver uma redação a produzir bom jornalismo. Talvez falte incentivo, talvez falte financiamento. Os meios nacionais mostram que só há coisas efetivas entre Lisboa e Porto e só se lembram do resto do país quando há queda de neve ou incêndios”, conclui.

Por Luísa Torre

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“O jornalismo não pode batalhar no mesmo campo da desinformação”

Os meios de comunicação social, sejam nacionais ou locais, não devem apenas batalhar por tráfego e utilizar os mapas de métricas de audiência como critério editorial. Desta forma, estariam lutando no mesmo campeonato que a desinformação, sacrificando a qualidade da informação, defendeu Paulo Pena, membro do Investigate Europe, durante o webinar “Mecanismos de Combate à Desinformação”, realizado no âmbito do Seminário MediaTrust.Lab, que decorreu na manhã do dia 18 de julho.

Enquanto a lógica do clickbait orienta a produção de desinformação, esta mesma lógica não deve nortear a produção jornalística, ele defende.

“Os meios de comunicação social não podem competir por um volume de tráfego online, é uma ideia errada. O principal erro que o jornalismo não pode cometer é batalhar no mesmo campeonato da desinformação”, disse Paulo Pena.

O jornalista explica que a desinformação se alimenta da viralidade e da possibilidade de ganhar dinheiro com publicidade paga. “Quanto mais cliques, mais dinheiro a desinformação vai gerar. Eu estudei um site em português, que era feito no Canadá, em Québec. Um site de publicidade que tinha sites de desinformação em português, tinha um editor e produzia 10 mil euros por mês. Os casos mais conhecidos que estudei era desinformação com objetivo de ganhar dinheiro. Depois do incêndio de Pedrógão [Grande] veio um site, Bombeiros 24. Entrevistei o autor que era um [estudante] universitário que tinha uma ideia de negócio a partir da desinformação, coisa que ele não considerava que fizesse”, destaca.

Portanto, Pena defende que o jornalismo não se pode confundir com desinformação da forma como angaria dinheiro do ponto de vista da publicidade online. “O jornalismo não deve guiar-se pela busca do clickbait”.

Pena sugere que as redações tirem todos os gráficos em tempo real de audiências das redações. De acordo com o especialista, eles introduzem um critério editorial nocivo à forma como as redações trabalham. “Os gráficos introduzem um outro critério ainda pior, que é o da autocensura. Porque se meu texto não está no top 10 não vou introduzir temas como a venda de agrotóxicos ou outros temas sociais, se o que dá cliques é a declaração do André Ventura sobre exterminar populações inteiras ou sobre a venda de um jogador no mercado do futebol”, explica.

Dois fatores incluídos na prática jornalística mais recente, no entanto, podem gerar desafios endógenos. A primeira, pontua Pena, é a velocidade.

“A ideia de que temos que dar primeiro a notícia, as breaking news, para ganhar relevância no algoritmo do Google mesmo se a notícia não estiver 100% e a melhorar ao longo do tempo, essa forma de produzir é problemática, pois o jornalismo passa a publicar informação que não é verificada. Temos exemplos cada vez mais frequentes nos meios de comunicação tradicionais disto. A falta de cuidado com a informação derruba a perceção pública de que há um mundo que separa a desinformação e a produção jornalística”, afirma.

Outra questão é a utilização da polarização e do ódio nos programas jornalísticos, em especial na televisão nos EUA. “Não foi a desinformação que passou a organizar a informação em prós e contras, em preto e branco. O jornalismo já fazia isso nos EUA, organizados em eixos de identidade política. As televisões passam a ter um viés da forma como leem o mundo. Se há um assunto que é polêmico, não podemos ouvir o pró e o contra. Por exemplo, sobre as alterações climáticas, vamos ouvir um negacionista das alterações climáticas? Essas questões não têm dois lados”, refere o jornalista de investigação.

A comunicação social também usa o ódio como motor da sua relação com o público, ele aponta. “Quando declarações falsas, bombásticas ou agressivas são utilizadas, façam o exercício de passar um dia numa sessão parlamentar. O escolhido para o jornal é o mais bombástico, aquilo enviesa a informação do ponto de vista do antagonismo. Queremos criar antagonismo porque a normalidade é a antítese do jornalismo. Nós fazemos a filtragem das declarações para usar as mais fortes. A desinformação serve para isso também, para criar animosidade, onde os políticos são vítimas e agentes da desinformação.”

Apesar dos desafios, Pena acredita que ainda há espaço para liberdade e emancipação na internet a partir da combinação de regulação e da contribuição da comunidade. “É um paradoxo termos tanto acesso a informação, ser tão simples descobrir com uma pesquisa simples algo escondido, e sentir que estamos cada vez menos informados. Em relação ao jornalismo, a solução passa por não priorizar o antagonismo e o sensacionalismo como assuntos, e no âmbito dos indivíduos, não clicar em sites manhosos para não dar dinheiro a eles. Eu continuo a acreditar no sonho emancipatório e de liberdade que é o da internet, mas não como está hoje”, afirma.

Os jornalistas também podem contribuir com estratégias e ferramentas, incluindo ter ceticismo sempre, saber resistir ao óbvio, e ter curiosidade. “A curiosidade é importante para o jornalismo. Aquele texto não vai aparecer no gráfico como mais lido, mas vai-me fazer renovar a assinatura, pois não quero ler a repetição. O ceticismo e a curiosidade são importantes, e olhar para o que fazemos com um olhar de compromisso social, é um compromisso com os leitores e não com o administrador do jornal, nem com a fonte, é com os leitores e temos que ser independentes por causa disso. E o nosso método tem que ser a prova de bala”, conclui.

Por Luísa Torre