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MediaTrust.Lab promove “Fact-checking Spring School” em Coimbra

Debater e aprimorar o(s) processo(s) de verificação de factos (fact-checking) é o mote para a Fact-checking Spring School, um treinamento destinado aos/às jornalistas que trabalham nos media regionais e locais e aos/às estudantes de jornalismo. A escola de primavera irá ser realizada no dia 19 de abril, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

A iniciativa contará com profissionais de projectos de fact-checking da Agência Lupa (Brasil), da Maldita.es (Espanha) e do Polígrafo (Portugal). Participam da iniciativa Raphael Kapa (Lupa), Vivian Rangel (Maldita.es) e Gustavo Sampaio (Polígrafo), em debate sobre desinformação, verificação de factos e o papel das agências de fact-checking nas sociedades.

O evento, que será gratuito, terá um debate e duas oficinas para treinar jornalistas e estudantes no uso de ferramentas de fact-checking e para dar a conhecer habilidades utilizadas na investigação de desinformação online.

Mais informações: https://mediatrust.ubi.pt/events/factcheck2023/

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Pedro Jerónimo integra comité editorial da revista Digital Journalism

O investigador responsável do MediaTrust.Lab, Pedro Jerónimo, irá integrar o comité editorial da revista científica Digital Journalism, uma das mais importantes no campo do Jornalismo do mundo, publicada pela editora britânica Taylor & Francis.

Pedro Jerónimo junta-se a outro representante português no comité editorial da revista, o professor do Departamento de Comunicação, Filosofia e Política da UBI e também investigador do LabCom, João Canavilhas.

“Foi um convite que recebi com um misto de surpresa e orgulho, pois atualmente é considerada a segunda melhor revista na área da comunicação. Conheço-a desde a fundação, ali por 2012, e cresceu muito nos últimos anos”, afirmou.

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Pedro Jerónimo é convidado para integrar rede europeia de excelência em fact-checking

Pedro Jerónimo, investigador responsável do MediaTrust.Lab, foi convidado pela European Fact-Checking Standards Network (EFCSN) para integrar o seu grupo de avaliadores. Trata-se de uma rede apoiada pela União Europeia, que “promove os mais altos padrões de verificação de fatos e promove a literacia mediática para benefício público”.

Os projetos de fact-checking que pretendam ter um “selo de qualidade”, passam por um processo de avaliação da EFCSN, que reúne cerca de três dezenas de especialistas, entres os quais dois portugueses. A rede é apoiada pela União Europeia, no âmbito dos projetos piloto e ações preparatórias na área de “Redes de Comunicações, Conteúdos e Tecnologia”.

“Esse convite, que surgiu sensivelmente na mesma altura, será uma consequência do projeto que estou a coordenar no LabCom, o MediaTrust.Lab, que se debruça sobre temas como a desinformação, a verificação e a literacia para os media. Aqui o papel também será avaliar. Neste caso já não artigos científicos, mas projetos de fact-checking que pretendam ter um ‘selo de qualidade’, relativamente às suas práticas de verificação”, disse o investigador.

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𝐌𝐞𝐝𝐢𝐚𝐓𝐫𝐮𝐬𝐭.𝐋𝐚𝐛 𝐜𝐨𝐨𝐫𝐠𝐚𝐧𝐢𝐳𝐚 𝐝𝐞𝐛𝐚𝐭𝐞𝐬 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐈𝐀, 𝐚𝐥𝐠𝐨𝐫𝐢𝐭𝐦𝐨𝐬, 𝐦𝐞𝐝𝐢𝐚 𝐞 𝐝𝐞𝐬𝐢𝐧𝐟𝐨𝐫𝐦𝐚çã𝐨

Num contexto de cada vez maior relevância das tecnologias digitais, dos algoritmos e da inteligência artificial nas nossas vidas individuais e coletivas, revelam-se fundamentais as iniciativas de debate público sobre essas questões. Para contribuir com esta necessidade democrática, a Universidade da Beira Interior – por meio da Unidade de Investigação Labcom – Comunicação e Artes e do projeto MediaTrust.Lab – realiza o Ciclo de Conversas “Inteligência Artificial, Algoritmos e Media”.

Reunindo investigadores e especialistas sobre os temas propostos, o Ciclo de Conversas acontecerá durante o mês de janeiro de 2023, com uma conversa semanal, às terças-feiras, das 18h às 19h30. O MediaTrust.Lab associa-se à organização e conta com a participação de duas investigadoras: Luísa Torre, da equipa organizadora, e Inês Amaral, que irá debater “Algoritmos e Desinformação” (31 janeiro).

A primeira conversa, no dia 10 de janeiro, será “Tecnologia, Sociedade e Democracia”, com a participação de Joaquim Paulo Serra (Universidade da Beira Interior, Portugal), Johanna Monagreda (Data Privacy Brasil Research, Venezuela/Brasil) e Rosa Franquet (Universitat Autònoma de Barcelona, Espanha) e moderação de Anabela Gradim (Labcom/UBI).

Na semana seguinte, no dia 17 de janeiro, é a vez do debate “Jornalismo, algoritmos e produção automatizada de notícias”, com Dora Santos Silva (Universidade Nova de Lisboa, Portugal), João Canavilhas (Universidade da Beira Interior, Portugal) e Krishma Anaísa Coura Carreira (Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, Brasil) e moderação de Adriana Gonçalves (Labcom/UBI).

Em 24 de janeiro, a mesa “Tecnologias digitais, ética e vieses discriminatórios” reúne Marisa Torres da Silva (Universidade Nova de Lisboa, Portugal), Patrícia Ventura (Universitat Autònoma de Barcelona, Espanha) e Tarcízio Silva (Mozilla Foundation, Brasil), com moderação de Paulo Victor Melo (ICNOVA FCSH e Labcom/UBI).

A última mesa, no dia 31 de janeiro, fala sobre “Algoritmos e Desinformação” com André Lemos (Universidade Federal da Bahia, Brasil), Inês Amaral (Universidade de Coimbra, Portugal) e Ramón Salaverría (Universidad de Navarra, Espanha) e moderação de Luísa Torre (Labcom/UBI).

A inscrição é grátis no link: https://forms.gle/z9wimisSNQCLVyZ36

Todas as conversas são transmitidas no canal do LabCom no Youtube: https://www.youtube.com/@labcom-comunicacaoeartes6840/

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Inovar nos media regionais é “crítico e sensível” para o desenvolvimento local

A falta de meios de comunicação social nos territórios mais pequenos e a pouca visibilidade que estes têm nos meios de âmbito nacional, exceto quando há tragédias, traz desafios para o desenvolvimento regional e para a qualidade da democracia ao nível mais local. É a partir da visibilidade destes territórios nos media, que as populações e as economias podem ter melhores oportunidades de se desenvolver.

Estas foram algumas das ideias debatidas no Fórum “O papel dos media no desenvolvimento do(s) território(s)”, realizado dia 5 de dezembro, no Auditório da Biblioteca Central da Universidade da Beira Interior (UBI), numa iniciativa do MediaTrust.Lab. O debate teve a presença de Flávio Massano, presidente da Câmara Municipal de Manteigas, João Leitão, professor do Departamento de Gestão e Economia da UBI, e de João Moraes Palmeiro, diretor executivo do Aveiro Media Competence Center.

Os participantes no debate falaram sobre o papel da comunicação social na coesão dos territórios, a importância dos órgãos públicos na regulação, o apoio ao desenvolvimento dos media regionais, os modelos de negócios e a dificuldade de inovar, nomeadamente em territórios com baixa população e atividade económica.

“Atualmente o nosso município é um território sem qualquer meio de comunicação social. Manteigas teve, até há pouco tempo, e isso faz toda a diferença. A comunicação social é fundamental para ligar as pessoas, as culturas, os povos, e é a ligação da diáspora com o nosso território”, afirmou Flávio Massano. O referido concelho está, atualmente, naquilo que o estudo apresentado pelo MediaTrust.Lab na mesma ocasião designa com “deserto(s) de notícias”. Tratam-se de territórios onde não há meios de comunicação social que, com sede nos mesmos, realizem a cobertura jornalística dos assuntos locais. “Faz falta um semanário, mensário. Isso é importante também para o equilíbrio de poder”, sublinhou o autarca.

Flávio Massano questionou quando ainda sobre quando é que o interior é lembrado pelos meios de comunicação de referência em Portugal. “Quando há tragédias, que foi quando eu apareci na comunicação social [no incêndio da Serra da Estrela]. Naqueles dias, era a toda a hora, todo instante, os media queriam saber o que se estava a passar. E o segundo motivo principal, pegando nos noticiários de televisão, é quando temos o maior bolo-rei, o maior doce… que é informar banaldiades. Do interior, só interessam tragédia e banalidades”, apontou.

Mas o que está a acontecer com a informação noticiosa em Portugal? Para João Leitão, há um problema de qualidade de democracia. “Quando falo de captura das agências reguladoras, são questões que esbarram na qualidade da democracia e no papel do Estado. Não precisamos de mais Estado, mas de um Estado com outro nível de qualidade e sobretudo regulador. Que seja capaz de pensar uma visão digital, moderna, que antecipe a mudança que está em curso e que seja capaz de evitar a captura das agências reguladoras e dos agentes que estão no terreno, para que os media possam assumir sua função de literacia e capacitação”, referiu o professor da UBI.

Tudo que se puder fazer em particular com os media como motor do desenvolvimento regional, temos que fazer, defende o professor. “Não seria desejável ter, por exemplo, uma agência de notícias regional do centro e isto estar articulado com os princípios europeus de capilaridade?”, questionou.

Percebe-se, cada vez mais, a importância do apoio dos órgãos públicos como via de solução para a(s) crise(s) dos meios regionais, em especial para os desertos de notícias, afirma João Moraes Palmeiro.

“Percebemos a importância da problemática na Europa e elevou-se o tema à mesma importância que a discussão da desinformação e das literacias. Na passada semana, apresentamos em Bruxelas este novo estudo sobre ‘news deserts’ e há muito interesse em debater isto. Esta é a nossa missão, que estes temas não fiquem fechados entre nós, que sejam disseminados pelo máximo de pessoas”, adiantou.

Há lacunas em que o Estado tem que intervir, diz Flávio Massano. E o Estado tem que perceber que não intervindo vai contribuir para a desertificação, para este território não ser atrativo a visitantes, observadores, e também aos media.

“Em alguns territórios, como em Manteigas, se não houvesse redes sociais, poderíamos estar num período comparado à ditadura, pois não há informação. Já há desinformação, já há discurso extremista, ‘fake news’, discurso de ódio. Mas não há uma fonte fidedigna que transmita os fatos”, destacou.

Desafios para modernizar a gestão e inovar em modelos de negócio

Há um problema já mapeado que é o problema da qualidade de gestão dos media, uma questão que “dialoga” com a problemática dos desertos de notícia. Para isso, diz João Leitão, os centros de competência tem que ser financiados e nomeados para juntar as competências técnicas das universidades, politécnicos e laboratórios, e aproximá-los do mercado.

“O empreendedorismo no jornalismo ou nos media regionais não gera empregos, não gera desenvolvimento? Assim estamos sempre a bater na mesma tecla. A academia não se relaciona ao mundo empresarial. É preciso gerar integração, mas é preciso ter uma visão. Não pode ser uma lógica neoliberal, de deixar funcionar e o mercado vai decidir. Neste campo em particular, tão crítico e sensível ao nosso desenvolvimento, é preciso ter visão, política de regulação e filtros de qualidade com monitoramento e correção”, explica o professor.

Para João Moraes Palmeiro, falta cultura de inovação e organização para que os media regionais consigam alcançar modelos de negócio mais sustentáveis.

“Chegamos aqui porque há uma mudança dos hábitos de consumo e a indústria não soube acompanhar essa transição no mundo inteiro. As redes sociais levam 95% do investimento em publicidade global e só 5% são canalizados para os media. Porque o modelo de negócio deles [grandes plataformas e redes sociais] é altamente baseado em dados e a campanha tem eficácia. Há um problema grave de modelo de negócio e posso dizer que, em várias conversas com conselhos de redação, que eles preferem ter uma notícia lida 1000 vezes gratuitamente do que ter 100 pessoas a pagar para ler. Mas não é esse modelo de negócio permite que os media existam”, explica.

Mesmo quando há inovação, novos formatos ou infraestruturas, muitos media não conseguem dar continuidade a estes projetos, salientou Palmeiro. “Fica tudo parado. Não usam porque não sabem, não conseguem, estão preocupados em sobreviver todos os dias”, concluiu.

Por Luísa Torre

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MediaTrust.Lab publica primeiro estudo sobre “desertos de notícias” na Europa

Desertos de Notícias Europa 2022: Relatório de Portugal” ou “News Deserts Europe 2022: Portugal Report”. É este o título do relatório, bilingue, que resulta de um estudo MediaTrust.Lab, coordenado por Pedro Jerónimo e realizado em coautoria com Giovanni Ramos e Luísa Torre.

“Durante três meses e reportando aos dados disponíveis na base de dados da ERC a 31 de maio de 2022, tentamos apurar quais os concelhos que têm comunicação social, os que não têm ou que estão numa situação de alerta. Um processo que envolveu dezenas de pesquisas e contactos, para além da colaboração de múltiplas entidades, jornalistas e demais cidadãos, a quem desde já agradecemos. Resumindo, procurámos apresentar neste relatório a informação mais fiél sobre cada concelho. Esperamos que seja uma ajuda para se conhecer melhor o cenário mediático em Portugal e porventura possa servir de suporte à definição de políticas públicas para o setor. Porque os espaços deixados vazios pelo jornalismo rapidamente são ocupados por outras realidades, menos ou mesmo nada comprometidas com a procura pela verdade, pela ética e a deontologia. Talvez por isso a Comissão Europeia esteja tão preocupada com o possível crescimento destes vazios e com eles a desinformação. Nessa perspetiva, o presente relatório é também um contributo inicial para o estudo sobre os ‘desertos de notícias’ na Europa”, lê-se na introdução do estudo.

Estes são alguns dos dados que destacamos:

  • Mais de metade dos concelhos em Portugal é ou está na iminência de se vir a tornar desertos de notícias. Dos 308 concelhos existentes, 166 (53,9%) encontram-se ou em deserto de notícias ou em semi-deserto ou estão ameaçados. Falamos de concelhos que se encontram numa situação de alerta em relação à cobertura noticiosa.
  • Mais de um quarto dos concelhos de Portugal estão em algum tipo de deserto de notícias, ou seja, não têm cobertura noticiosa satisfatória ou frequente. Dos 308 concelhos, 78 (25,3%) estão em algum tipo de deserto de notícias, isto é, não possuem meios de comunicação com sede no concelho sobre o qual produzem conteúdos. Destes 78 concelhos, 54 (17,5%) estão num deserto total, isto é, não possuem nenhum meio de comunicação que produza notícias, e 24 (7,8%) estão em semi-deserto, ou seja, têm apenas noticiário menos frequente ou insatisfatório. De referir ainda que há 88 (28,6%) que se encontram sob ameaça de entrarem no deserto, pois possuem apenas um meio com produção noticiosa regular.
  • As regiões Norte, Centro e Alentejo concentram mais de 80% dos desertos e semi-desertos de notícias em Portugal. Nestas regiões, encontram-se 63 dos 78 concelhos em desertos e semi-desertos. Os distritos de Beja, Bragança, Évora, Portalegre e Vila Real são aqueles que têm a maior parcela de concelhos em algum tipo de deserto de notícias.
  • Nos distritos de Bragança e Portalegre, mais de metade dos concelhos estão no deserto ou semi-deserto. O distrito de Portalegre abrange um total de 15 concelhos, dos quais 9 (60%) estão incluídos no mapa dos desertos. Em Bragança, são 7 (58,3%) dos 12 concelhos.
  • A falta de produção local de notícias afeta mais os concelhos do interior do país. Os distritos de Lisboa, Porto, Braga e Aveiro, onde estão os 20 concelhos mais populosos de Portugal, possuem apenas três concelhos no deserto (Lisboa, Braga e Aveiro). O distrito de Porto é o único sem nenhum município no deserto, semi-deserto ou mesmo sob ameaça (com apenas um meio de comunicação). Em Portugal continental, apenas três concelhos do litoral se encontram em semi-deserto – Aljezur, no distrito de Faro; Albergaria-a-Velha, em Aveiro; e Óbidos, em Leiria – e nenhum consta no deserto total de notícias.
  • Não há jornais impressos a fazer a cobertura noticiosa frequente em 182 concelhos de Portugal (59%). Consideramos, neste relatório, como publicações frequentes as diárias, semanais e quinzenais. Dos referidos 182 concelhos, 106 (34,4%) não contam com meios impressos noticiosos, mas têm outros meios regulares. Um total de 15 concelhos têm apenas mensários impressos a cobrir notícias sem outros meios noticiosos, e, portanto, são considerados semi-desertos, e 54 só têm publicações mensais, contando com outros meios que não são impressos (digital e/ou rádios). 106 concelhos (34,4%) contam, ao mesmo tempo, com pelo menos um meio impresso mais frequente e com um meio digital. Seis concelhos têm como único meio noticioso um meio impresso mais frequente.
  • Os meios digitais estão em 151 concelhos (49%) e não há nenhum em 157 concelhos (51%). 16 concelhos sediam apenas um meio digital, não contando com outros meios, e são considerados ameaçados de se tornarem desertos. Em 77 concelhos, há meios impressos mais frequentes, digitais e rádios.
  • Um total de 118 concelhos (38,3%) não contam com nenhuma rádio a veicular notícias locais. 17 concelhos têm rádios licenciadas mas não têm cobertura local de notícias (sem nenhum jornalista no concelho e/ou redação localizada em outro concelho não-limítrofe). Destes, 9 não contam com outro meio noticioso e um conta com apenas um jornal de publicação considerada menos frequente – estes 10 casos são considerados, portanto, semi-desertos. Em outros 7 concelhos, há impressos mais frequentes ou meios digitais. Por outro lado, há rádios licenciadas em 175 concelhos de Portugal (56,8%) com redação e jornalistas no mesmo local. Em 59 concelhos, as rádios são o único meio noticioso local. Em 2 concelhos que têm apenas uma rádio como meio supostamente noticioso, não foi possível confirmar a sua existência e, portanto, em termos apenas de rádios, estes concelhos foram classificados como sem classificação. Apesar disso, esses dois concelhos, Castelo de Paiva (Aveiro) e Azambuja (Lisboa), têm outros meios de comunicação social local além das rádios e não são, portanto, no geral, considerados desertos de notícias.
  • Mais da metade dos 50 concelhos menos populosos do país estão no deserto ou semi-deserto de notícias. Entre os 50 menores concelhos em termos de população, 29 (58%) estão no deserto ou no semi-deserto. Dos 100 concelhos menos populosos, 53 (53%) estão no deserto ou no semi-deserto. No total, 647.422 pessoas vivem em algum tipo de deserto de notícias, ou seja, 6,3% da população. Mais de 13,4% dos cidadãos do país vivem em desertos de notícias ou em comunidades em risco de se tornarem desertos de notícias. São 1.390.493 pessoas que vivem nos 78 concelhos com cobertura menos regular de notícias ou nos 88 concelhos com apenas um meio de comunicação que cobre notícias locais com mais frequência.
  • 42 dos 100 concelhos (42%) com menor poder de compra estão no deserto ou semi-deserto de notícias. Nos 50 concelhos com menor poder de compra do país, 22 (44%) estão no deserto ou semi. Na comparação dos mapas do poder de compra de 2019 e dos desertos de notícias de 2022, evidencia-se a relação entre poder de compra e produção de notícias locais por regiões.
  • Baixa correlação entre a ausência de noticiário local e a abstenção nas eleições portuguesas. Na lista dos 50 concelhos com maior abstenção nas Autárquicas 2021, somente 3 estão no deserto ou semi. Quando se consideram os 100 concelhos com maior abstenção nas Autárquicas 2021, apenas 11 estão no deserto ou semi. Em relação às Legislativas 2022, entre os 50 concelhos com maior taxa de abstenção, apenas 16 estão no deserto ou semi-desertos, enquanto na lista dos 100 concelhos com maior taxa de abstenção nas Legislativas 2022, apenas 27 estão no deserto ou semi-desertos. Por fim, importa referir que a abstenção não foi considerada de forma estratificada, nomeadamente por idades. Este tipo de análise, que se procurará fazer em próximos estudos, ajudará a identificar eventuais diferenças e impactos da presença ou ausência de desertos de notícias nos concelhos.

Portugal é, assim, o primeiro país europeu a estudar os “desertos de notícias”, seguindo o que tem sido feito nos EUA, desde 2016, e no Brasil, desde 2017.

Este estudo contou com a colaboração do Aveiro Media Competence Center.

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Melhorar o jornalismo para combater a desinformação

Os jornalistas e docentes universitários António Granado e Miguel Crespo debateram as práticas jornalísticas em meio ao desafio da desinformação em Portugal, na mesa redonda “Boas Práticas no Jornalismo e Promoção da Confiança”, no âmbito do Seminário MediaTrust.Lab, que decorreu na tarde de 18 de julho.

“Eu sinto-me mais preocupado com a contribuição que os jornalistas podem fazer para a desinformação, que a desinformação de forma geral. Do ponto de vista do jornalismo, esta é a que me preocupa mais”, disse António Granado, co-coordenador do mestrado em Comunicação de Ciência na NOVA FCSH.

O também jornalista explicou que a primeira obrigação do jornalismo é com a verdade, “então se não temos certeza não publicamos. Se outros vão publicar primeiro, azar, só podemos publicar quando tivermos certeza de uma informação. Não se conseguiu confirmar, não se conseguiu ter a certeza do que se passou ali, então não se publica”.

Granado acredita que a contribuição para desinformação pode vir às vezes também de uma obrigação que os jornalistas sentem de que é preciso ouvir o outro lado da história. “A questão de balancear as histórias, esse balanço às vezes contribui para algo negativo que é ouvir pessoas que não tem conhecimento sobre o tema. Os jornalistas ouvem, as fontes não têm conhecimento sobre o tema em que estão a opinar e isso confunde os espectadores”, explicou.

Miguel Crespo, investigador assistente no CIES-IUL e no OberCom, subscreve. “Durante a pandemia, tivemos todas as questões da pseudociência. Não há outro lado a ouvir, só há o lado da ciência. O jornalismo não pode dar espaço a qualquer louco com uma teoria.” Crespo também acredita que alguns processos no jornalismo português precisam ser melhorados para que a confiança nos media possa aumentar.

“Há algumas semanas vimos a notícia sobre [se o ministro] Pedro Nuno Santos ia renunciar ou não renunciar. Por volta das 14h30, quando Pedro Nuno Santos ia entrar para a reunião com António Costa, um dos nossos jornais diários publicou no seu site que ele se demitia ou o António Costa o demitiria. Três minutos depois, as rádios já diziam que ele se demitia. Como sabemos, nenhuma das coisas se verificou, e são os jornais a brincar de redes sociais. Não era uma notícia, só uma especulação, não há fontes. Um cidadão comum vê isto, o que está errado é o jornalismo. Isso é gravíssimo pois são muitos portugueses que deixam de confiar no jornalismo”, lamenta.

O também jornalista pontua que essas dinâmicas têm a ver com a tal aceleração e a velocidade que se impõe sobre a rotina jornalística. “Se calhar é uma visão pessoal, mas o caminho do jornalismo não é ir atrás da rapidez, porque a rapidez não traz nada de bom ao jornalismo. É preciso dar notícias quando são relevantes. É preciso dar 100 notícias por hora? Não. Se calhar é mais interessante dar cinco notícias por hora”, afirma.

Os dois profissionais também refletiram sobre o fact-checking e seu estatuto enquanto jornalismo. “O problema é que, quando o jornalista falha, abre-se espaço para outras coisas. Digamos que se não tivesse havido no passado recente falhas no jornalismo, não teria o que conhecemos como fact-checking. Abriu-se um nicho de mercado que foi ocupado com suas virtudes e defeitos. Se estamos a falar de um novo género jornalístico ou não, vamos deixar que o tempo passe e logo veremos. É uma questão muito discutida se fact-checking é ou não jornalismo, até porque o produto final não se enquadra diretamente nos critérios do que é jornalismo”, observa Crespo.

Granado, por sua vez, lembra que o fact-checking é algo obrigatório devido a quantidade de informação que as pessoas trocam nas redes sociais, mas tem dúvidas se o jornalismo ganha ou perde mais com o fact-checking. “Em relação ao Polígrafo, por exemplo, 90% do dinheiro que o sustenta vem do Facebook. É interessante haver a parceria da SIC, mas 96% do dinheiro provém de um único financiador”, afirma.

Um problema, antigo na visão de Crespo, e que impacta fundamentalmente o jornalismo, é que as pessoas não querem pagar por notícias. “Não mudou assim tanto. A generalidade das pessoas não quer pagar por notícias. Não se pagava pela rádio e pela televisão pagava-se uma taxa obrigatória. Mas havia muita publicidade. Hoje, o mercado português investe metade dos recursos em plataformas internacionais e o dinheiro vai para fora do país. Jornalismo é das profissões que existem que mais dependem da mão de obra. Exige mais pessoas para produzir qualquer coisa, se calhar mais que uma manufatura que pode ser robotizada. Vejo a participação das audiências como algo muito difícil em regiões onde há muitíssimas outras questões para resolver, então vejo como algo muito difícil. As audiências acabam por se conformar com o fato que as notícias de sua região são quase zero”, refere.

A falta de meios em diversos concelhos – fenómeno conhecido como “deserto de notícias” – é, certamente, um problema não só ao jornalismo como também para a democracia, diz Granado. “Para mim democracia sem jornalismo não faz sentido. Além disso, na generalidade dos concelhos do país, há um déficit gritante de jornalismo local, mesmo quando há jornalismo local. A maioria dos meios que existem são muito pobres tanto em termos financeiros quanto em termos editoriais. Aquilo que é publicado quando há jornalistas com carteira e está registado na ERC são publicações da Câmara Municipal, notícias sobre o restaurante da cidade e a loja local, não é jornalismo propriamente dito”, afirma.

Para ele, fortalecer o jornalismo de proximidade passa também por novos modelos, como por exemplo o funcionamento a partir de um trabalho em rede. “Uma lógica em que produzem todos por todos, é uma lógica funcional que poderia estar espalhado pelos concelhos. Se houvesse algo nesse sentido, poderia haver uma redação a produzir bom jornalismo. Talvez falte incentivo, talvez falte financiamento. Os meios nacionais mostram que só há coisas efetivas entre Lisboa e Porto e só se lembram do resto do país quando há queda de neve ou incêndios”, conclui.

Por Luísa Torre

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“O jornalismo não pode batalhar no mesmo campo da desinformação”

Os meios de comunicação social, sejam nacionais ou locais, não devem apenas batalhar por tráfego e utilizar os mapas de métricas de audiência como critério editorial. Desta forma, estariam lutando no mesmo campeonato que a desinformação, sacrificando a qualidade da informação, defendeu Paulo Pena, membro do Investigate Europe, durante o webinar “Mecanismos de Combate à Desinformação”, realizado no âmbito do Seminário MediaTrust.Lab, que decorreu na manhã do dia 18 de julho.

Enquanto a lógica do clickbait orienta a produção de desinformação, esta mesma lógica não deve nortear a produção jornalística, ele defende.

“Os meios de comunicação social não podem competir por um volume de tráfego online, é uma ideia errada. O principal erro que o jornalismo não pode cometer é batalhar no mesmo campeonato da desinformação”, disse Paulo Pena.

O jornalista explica que a desinformação se alimenta da viralidade e da possibilidade de ganhar dinheiro com publicidade paga. “Quanto mais cliques, mais dinheiro a desinformação vai gerar. Eu estudei um site em português, que era feito no Canadá, em Québec. Um site de publicidade que tinha sites de desinformação em português, tinha um editor e produzia 10 mil euros por mês. Os casos mais conhecidos que estudei era desinformação com objetivo de ganhar dinheiro. Depois do incêndio de Pedrógão [Grande] veio um site, Bombeiros 24. Entrevistei o autor que era um [estudante] universitário que tinha uma ideia de negócio a partir da desinformação, coisa que ele não considerava que fizesse”, destaca.

Portanto, Pena defende que o jornalismo não se pode confundir com desinformação da forma como angaria dinheiro do ponto de vista da publicidade online. “O jornalismo não deve guiar-se pela busca do clickbait”.

Pena sugere que as redações tirem todos os gráficos em tempo real de audiências das redações. De acordo com o especialista, eles introduzem um critério editorial nocivo à forma como as redações trabalham. “Os gráficos introduzem um outro critério ainda pior, que é o da autocensura. Porque se meu texto não está no top 10 não vou introduzir temas como a venda de agrotóxicos ou outros temas sociais, se o que dá cliques é a declaração do André Ventura sobre exterminar populações inteiras ou sobre a venda de um jogador no mercado do futebol”, explica.

Dois fatores incluídos na prática jornalística mais recente, no entanto, podem gerar desafios endógenos. A primeira, pontua Pena, é a velocidade.

“A ideia de que temos que dar primeiro a notícia, as breaking news, para ganhar relevância no algoritmo do Google mesmo se a notícia não estiver 100% e a melhorar ao longo do tempo, essa forma de produzir é problemática, pois o jornalismo passa a publicar informação que não é verificada. Temos exemplos cada vez mais frequentes nos meios de comunicação tradicionais disto. A falta de cuidado com a informação derruba a perceção pública de que há um mundo que separa a desinformação e a produção jornalística”, afirma.

Outra questão é a utilização da polarização e do ódio nos programas jornalísticos, em especial na televisão nos EUA. “Não foi a desinformação que passou a organizar a informação em prós e contras, em preto e branco. O jornalismo já fazia isso nos EUA, organizados em eixos de identidade política. As televisões passam a ter um viés da forma como leem o mundo. Se há um assunto que é polêmico, não podemos ouvir o pró e o contra. Por exemplo, sobre as alterações climáticas, vamos ouvir um negacionista das alterações climáticas? Essas questões não têm dois lados”, refere o jornalista de investigação.

A comunicação social também usa o ódio como motor da sua relação com o público, ele aponta. “Quando declarações falsas, bombásticas ou agressivas são utilizadas, façam o exercício de passar um dia numa sessão parlamentar. O escolhido para o jornal é o mais bombástico, aquilo enviesa a informação do ponto de vista do antagonismo. Queremos criar antagonismo porque a normalidade é a antítese do jornalismo. Nós fazemos a filtragem das declarações para usar as mais fortes. A desinformação serve para isso também, para criar animosidade, onde os políticos são vítimas e agentes da desinformação.”

Apesar dos desafios, Pena acredita que ainda há espaço para liberdade e emancipação na internet a partir da combinação de regulação e da contribuição da comunidade. “É um paradoxo termos tanto acesso a informação, ser tão simples descobrir com uma pesquisa simples algo escondido, e sentir que estamos cada vez menos informados. Em relação ao jornalismo, a solução passa por não priorizar o antagonismo e o sensacionalismo como assuntos, e no âmbito dos indivíduos, não clicar em sites manhosos para não dar dinheiro a eles. Eu continuo a acreditar no sonho emancipatório e de liberdade que é o da internet, mas não como está hoje”, afirma.

Os jornalistas também podem contribuir com estratégias e ferramentas, incluindo ter ceticismo sempre, saber resistir ao óbvio, e ter curiosidade. “A curiosidade é importante para o jornalismo. Aquele texto não vai aparecer no gráfico como mais lido, mas vai-me fazer renovar a assinatura, pois não quero ler a repetição. O ceticismo e a curiosidade são importantes, e olhar para o que fazemos com um olhar de compromisso social, é um compromisso com os leitores e não com o administrador do jornal, nem com a fonte, é com os leitores e temos que ser independentes por causa disso. E o nosso método tem que ser a prova de bala”, conclui.

Por Luísa Torre

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“Esfera pública e desinformação local” em debate

“Esfera pública e desinformação local” é o título da comunicação que Pedro Jerónimo e Luísa Torre vão apresentar no VII Congresso Internacional de Comunicação, Jornalismo e Espaço Público “As transformações da Esfera Pública – 60 anos depois da obra Strukturwandel der Öffentlichkeit, que vai decorrer em Coimbra, de 13 a 15 de Julho.

O congresso conta ainda com a participação de outros investigadores do MediaTrust.Lab. São os casos de João Miranda, que apresenta – com Bibiana Garcez, Maria João Silveirinha, Bruno Dias e Susana Sampaio-Dias – a comunicação “Journalist’s harassment, gender, and the public sphere”, e Sílvio Santos, com “Participação igual não é só uma questão de números: incivility online como experiência de género”. Inês Amaral irá moderar a conferência de Slavko Splichal (Universidade de Liubliana), subordinada ao tema “How private extraction displaced public expression of opinion: changes in the interpretive and cultural contexts of publicness”.

Por fim, destaque para Adriana Gonçalves – colaboradora do projeto – que irá apresentar a comunicação “Esfera pública digital na era do jornalismo algorítmico”.

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Concelhos sem notícias são mote para relatório

O MediaTrust.Lab está a preparar um relatório sobre o “deserto de notícias” em Portugal e que prevê publicar no início do mês de setembro. Este é um fenómeno que resulta da ausência de órgãos de comunicação social (OCS) em vários concelhos de Portugal.

Em 2020, foram identificados 57 concelhos – dos 308 existentes – nos quais não havia qualquer registo de OCS na ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social, sendo que no ano seguinte, 2021, passaram a ser 61 concelhos.

Giovanni Ramos, jornalista brasileiro e aluno de doutoramento da Universidade da Beira Interior, que iniciou este estudo em Portugal, prevê que a situação se agrave nos próximos tempos. Dados preliminares do relatório que o também colaborador do MediaTrust.Lab está a trabalhar com investigadores do projeto, já apontam nesse sentido.

O entendimento existente no MediaTrust.Lab é que os territórios invisíveis à cobertura jornalística são potencialmente mais vulneráveis à circulação de outro tipo de conteúdos, designadamente desinformação. Por isso, é importante estudá-los. É o que estamos a fazer 😊

Por Pedro Jerónimo